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Dados contabilizam 1,3 milhão de quilombolas, população historicamente excluída cujas comunidades foram fundadas por escravizados fugitivos

Mais de 1,3 milhão de brasileiros que se identificam como descendentes de africanos que escaparam da escravidão finalmente ganharam reconhecimento nas estatísticas oficiais, marcando uma vitória para essa população historicamente excluída.

Os dados inovadores foram divulgados na quinta-feira como parte do censo brasileiro de 2022 , durante o qual o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou e mapeou pela primeira vez a população quilombola do país – membros de comunidades afro-brasileiras muitas vezes remotas que foram tradicionalmente fundadas por escravos fugitivos.

“É um avanço na nossa luta. Há anos pedimos ao estado brasileiro que conte as comunidades quilombolas”, disse Denildo “Biko” Rodrigues, coordenador executivo da associação quilombola Conaq.

Embora hoje muitos vejam os quilombos como um símbolo da resistência negra , os descendentes dos habitantes originários continuam sofrendo com o racismo, a marginalização e a falta de visibilidade.

“Ainda há muitos vestígios do processo de escravização. […] Por isso o censo é tão importante”, disse Rodrigues.

O censo contabilizou 1.327.802 quilombolas espalhados pelo Brasil, tanto na zona rural quanto na urbana. A maioria (68,2%) vive no Nordeste, onde 74,5% da população total é preta ou parda, contra 56% nacionalmente. Cerca de um terço vive na Amazônia, onde atuam como “guardiões invisíveis da biodiversidade”, segundo Rodrigues, e enfrentam ameaças semelhantes às da população indígena local.

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O censo brasileiro é uma operação gigantesca: no ano passado, 120.000 recenseadores contabilizaram uma população de 203 milhões em um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. E contabilizar especificamente a população quilombola exigiu anos de preparação, já que o IBGE trabalhou com os líderes quilombolas para mapear cerca de 6.000 comunidades e treinou os recenseadores sobre como abordar essa população com sensibilidade.

O resultado é um “retrato mais abrangente e fidedigno da população quilombola do país”, segundo Marta Antunes, que lidera o projeto do IBGE sobre povos e comunidades tradicionais.

Os dados permitirão ao estado adequar melhor as políticas de educação, saúde, saneamento e moradia às necessidades da população quilombola, principalmente no nível municipal, disse ela.

“Dá instrumentos para que o Estado cumpra seu dever”, acrescenta Fernando Damasco, gestor de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE. Os números mostram que o Brasil falhou em defender o direito constitucional do povo quilombola à sua terra ancestral, disse ele.

Apenas 494 territórios quilombolas têm alguma forma de reconhecimento legal, e a esmagadora maioria 87,4% dos quilombolas vivem fora deles. Apenas 4,3% vivem em quilombos titulados , última etapa do processo de reconhecimento oficial.

Érida Ferreira, 35, está entre a maioria dos quilombolas que ainda luta pelo direito à sua terra. Como presidente da associação do quilombo Ferreira Diniz, no Rio de Janeiro, ela espera que o reconhecimento do censo ajude a traçar políticas públicas que protejam sua comunidade. Ela disse: “Se eles tiram a gente do nosso território, eles matam a nossa cultura […] E proteger, respeitar, incentivar as vivências quilombolas é manter viva a história do Brasil”.

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